domingo, 12 de setembro de 2010

Do "livro".

Eu acho muito estranho quando as pessoas ficam de frescura na casa dos outros. Não gostam de incomodar. Mesmo quando é visível que o dono da casa tem prazer em receber, em agradar as visitas, tem gente que não quer aceitar um mísero grãozinho de arroz, só para não incomodar.

Já ouvi falar em mães mais antigas que mandavam seus filhos comerem em casa antes de irem a festas na casa dos outros, para não passarem vergonha. Ora, pobres crianças!

Presenciei diálogos memoráveis como:

- Fulano, aceita alguma coisa?
- Não, obrigado.
- Nem uma aguinha?
- Não, não quero nada, valeu.
- Ahhhh... Tá. Diz: o que tu come em casa?
- Olha, em casa eu gosto de pipoca.
- Pipoca? Então! Quer pipoca?
- Não, é que eu só gosto de pipoca doce.
- Quer pipoca doce, então?!
- Só gosto de comer pipoca doce em casa...

Pior foi quando minha mãe surpreendeu o “pipoqueiro” acima e, sem perguntar, trouxe ao meu quarto pipoca e guaraná para o pessoal. Ele, para não fazer desfeita, comeu UMA pipoca.

Mas há o outro lado da moeda: tem gente que se sente em casa demais. Um amigo meu era considerado o cara mais folgado da turma. Sentia-se em casa mesmo, não tinha cerimônia nenhuma. Certo dia foi visitar outro amigo e este não se encontrava em casa. A mãe do dono da casa estava saindo, mas disse para o visitante entrar, sentir-se em casa e esperar um pouquinho, pois seu filho voltaria rapidinho.

O visitante levou ao pé da letra. “Sinta-se em casa”. Como se estivesse em seu próprio lar, foi até a geladeira, encontrou um pote de doce de leite uruguaio, pegou o pote, uma colher, e foi sentar-se na sacada do apartamento, bem tranquilo, esperando o amigo chegar.

A turma não compreendia o porquê de tais atitudes por parte dele. Mas uma vez tivemos a chance de vingança: fomos até sua casa, prontos para assaltar a geladeira. Quando ele se distraiu, corremos até a cozinha e lá vimos algo muito triste: uma geladeira amarrada com corda, para a borracha da porta fechar apropriadamente. Abrindo a geladeira, vimos algo mais triste ainda: lá dentro, apenas um pote contendo um presunto com as bordas esverdeadas.

Tudo explicado. Não, eles não eram pobres. Só estavam de regime (foi a desculpa que foi dada, e nós acolhemos tal desculpa).

Voltando aos que não gostam de incomodar: outro amigo, quando criança, teve de dormir na casa de uns amigos de seus pais. Seu pai havia passado por uma cirurgia, e sua mãe foi acompanhá-lo no hospital. Os amigos, para agradar o menino, levaram-no ao supermercado juntamente com seus filhos, e lá determinaram:

- Olha, menino, tá liberado. Tens o supermercado à tua disposição. Pega qualquer coisa que tu quiseres, ok? Qualquer coisa, não importa o preço.

Qual criança não gostaria de ouvir isso? Ele saiu correndo. Percorreu o supermercado inteiro e escolheu...

...um saco de pão torrado.

3 comentários:

Diogo disse...

Pensei num comentario.

Mas nao quero incomodar. ;)

Anne Pinheiro Leal disse...

Realmente, não há nada mais mal educado do que gente cerimoniosa. Fora que gente cerimoniosa, no fundo, também é meio megalomaníaca: quem disse que a pessoa tem o PODER de incomodar? Oras, vai te catar, tchê.

M.M. disse...

Gosto disso. Seus posts são descontraídos, parecem despretensiosos, mas dizem tanto.
Por isso gosto de vir aqui, te ler.

Um beijo!

MeninaMisteriosa


"O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente." (Autor desconhecido. Ou não.)