sexta-feira, 30 de julho de 2010

Trechinho do meu "livro"

Muita gente diz que pessoas que nunca tiveram um animal de estimação certamente passaram por infâncias tristes. Eu não consigo entender o porquê de tal afirmação, pois nunca tive um bichinho e nunca senti falta de um. Na casa de meus pais não havia lugar para animais (fora meu irmão e eu), fomos criados dessa forma, então realmente nunca tivemos aquela ânsia infantil de ter um cachorrinho ou um gato, um passarinho, uma lontra, uma jaguatirica, um mamute, um crocodilo, uma preguiça ou outro bichinho qualquer – tenho duas primas que já tiveram, pelo o que recordo, todos esses bichos aí...

E também não pretendo dar bichos de estimação aos filhos que eu porventura tenha no futuro. E espero que eu não troque de ideia no caminho até esse futuro, porque o que dizem é cruel: pai e mãe não têm escolha; quando os filhos nascem, a vontade dos pequenos habitantes da casa impera. Será? Será que serei derrotado por um filho que chora desesperadamente por um animalzinho?

Um colega bateu o pé e decidiu que em sua casa não haveria espaço para esses bichos. Seus filhos, pelo o que sei, não reclamavam por causa da falta de um animal de estimação, mas foram pegos de surpresa durante um almoço. O pai levou a família a um restaurante considerado chique na cidade. Pediram comida demais e, na hora de pedir a conta, sua esposa ficou sem jeito de pedir uma “quentinha” ao garçom, para que pudesse levar a sobra para casa.

- Deixa comigo. Eu já sei o que vou dizer pra ele – afirmou o confiante marido.

O garçom aproximou-se da mesa para retirar os pratos e o pai da família pediu:

- Moço, por favor, pode colocar o resto da comida em uma “quentinha”? Vamos levar para o cachorro...

Os filhos não conseguiram conter sua felicidade e gritaram:

- VIVA! O pai vai nos dar um cachorro!!!

A grande maioria dos proprietários de animais de estimação cria cachorros e gatos. Meu primo tinha uma galinha de estimação. E o nome da galinha era Frango. Grande nome! Simples, curto e grosso, não tem como esquecer. “Qual é o nome da tua galinha mesmo?” “É Frango.” Mais fácil ainda seria se ela se chamasse Galinha.

(Parêntese: o nome mais estranho dado por alguém que eu conheço a algo que estimava muito era o da bicicleta de um amigo meu. Pedro, a bicicleta. Jamais entendi como ele chegou a esse nome. Vai saber! Talvez a bicicleta descendesse de longa linhagem de bicicletas portuguesas. O pai dela só podia ser João, a bicicleta. O amigo deveria, então, se a razão do nome era realmente essa, ter chamado sua bike de “Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon”.)

Meu avô, assim como meu primo, resolveu sair do eixo cachorro-gato, e tinha um cabrito de estimação. E o nome dele era “Mé”. Analiso o porquê do nome. “Mé”, segundo os ensinamentos dos bebuns de plantão, não significa “cachaça”? Mas meu avô era criança pequena quando tinha esse cabrito, então não deveria ser um cachaceiro nesses tempos – assim espero! Então, já entendi. Onomatopeia. O cabrito faz “mééééé”, e vovô, gênio da raça, batizou o bicho em homenagem ao som que ele emitia.

O Mé era o melhor amigo do velho (na época ele não era velho, obviamente!). Era seu companheiro. Fiel, justo, como todo cabrito de estimação. Certo dia, meu avô tinha ido para a escola. Quando voltou, feliz da vida, cantarolando, aproveitando sua inocência infantil, notou aquela tradicional fumaça saindo da chaminé da churrasqueira de seu pai. “Oba! Tem churrasco!”, pensou.

Foi até o quintal e a família estava pronta para devorar a churrascada. Ganhou, logo quando sentou-se à mesa, uma lasca daquela carne tenra e macia, que girava e girava sobre aquela brasa fumegante, sendo lambida por labaredas intermitentes... E mastigou. E mastigou. E repetiu. Ótima carne.

- Mãe, do que é esta carne? – perguntou à minha bisavó.

- De cabrito.

Ele, então, deu-se por conta. Havia comido o Mé. Seu grande amigo.

Até que ponto a amizade com os bichinhos impera? Deveria, então, meu avô ter vomitado a carne de seu grande amigo e dar a ele o que realmente merecia, ou seja, um enterro decente?

Era o que todo cabrito fiel mereceria. Ou não?

3 comentários:

Diogo disse...

"e vovô, gênio da raça"
hIUAIUauhAIUHaiuhAIUHIauhiAU

Pai disse...

E aquele cabritinho que morreu de sede? Era esse Mé? Ou era ovelhinha?
Bichinhos de estimação sempre deixam estas histórias tristes!
Melhor o nosso esquema: é bom ver bicho na casa dos outros ou no Animal Kigdom.
Pai

Leandro Fonseca disse...

Não, pai, a ovelhinha era outro bicho! E não acho que as histórias sejam tristes... até pq eu não tô nem aí pros bichos mesmo!


"O que é de interesse coletivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente." (Autor desconhecido. Ou não.)