(Tô escrevendo um "livro". Eu sempre coloco as devidas aspas porque ele não chega a ser um livro. É simplesmente um "livro"; é uma tentativa... É um "livro" de crônicas. Tó uma delas aí.)
Gordo sofre. Eu sei disso, pois eu sou gordo. Eu sei o que é sofrer por ser gordo. Hoje sou menos gordo do que já fui (até quando permanecerei “menos gordo”, não sei. A tentação diária para voltar ao meu peso recorde é grande.). Já tive banha suficiente, acumulada em minha protuberante pança, para, sentado na cama, não conseguir levantar os pés até o alcance das mãos e poder amarrar o cadarço dos sapatos. A barriga, que me acompanha larga desse jeito desde, creio eu, meus dez anos de idade, ficava no caminho entre os braços e as pernas e não havia jeito de eu amarrar os cadarços. Era triste.
Achar uma solução era imperativo. Eu não podia mais ficar daquele jeito. Então, eu resolvi ousar: comprei sapatos sem cadarços. Grande sucesso.
O gordo não gosta de ser tratado como gordo. Mas eu não tenho problemas com isso. Sou gordo, oras. Gosto de comer. Como mesmo, com prazer, e, por causa disso, eu engordo. Lei da natureza.
Entretanto, a lei da natureza, eu preciso assinalar, tem suas exceções. Os gordos de alma. Só de alma, pois seus corpos não demonstram efeito de suas andanças gastronômicas. Eu fico possesso com esse tipo de gente. Tenho amigos assim. Não sei para onde vai a comida que eles ingerem. Comem feito mamutes, tanto quanto eu, e só a minha pança aumenta. A deles continua na mesma. Para onde vai a comida?? Para o dedão do pé?
Sobre o exato oposto, certa vez meu chefe afirmou a seguinte máxima: é possível engordar comendo pouco. Segundo ele, a pessoa come pouco e, mesmo assim, engorda. “Não sei por que eu engordo! Eu como tão pouco!”, ele reclamava.
É. Naquele breve momento eu perdi o respeito que sempre tive por ele e falei que o “pouco” deveria ser:
- só um copo de banha;
- só uma pizza família por dia;
- só uma caixa de bombons a cada hora do dia;
- só um pigmeu gordinho da Costa do Marfim nos churrascos dos finais de semana.
E as pobres gordinhas (preste atenção no eufemismo! Eufemismo é crucial quando temos que tratar das gordinhas!)? Coitadinhas, a maioria não suporta nem que olhemos para elas... Imagina, então, chamá-las de gordas! Isso não se faz.
Nada tenho contra mulher gordinha! Ser gorda não é sinônimo de ser feia, assim como ser magra não significa ser bonita. Já testemunhei o seguinte diálogo: a moça voltava das férias, e alguém notou que ela havia perdido alguns bons quilos durante seu afastamento.
- Puxa vida, Fulana, mas como tu estás magra!
- Ai, muito obrigada!
- “Muito obrigada”, por quê? Não estou dizendo que tu estás bonita...
Rápido parêntese. Outro diálogo que ocorreu entre essas duas pessoas foi:
- Eu quero um homem tuuuudo de bom! Quero um homem rico, lindo, cheiroso, forte, alto, simpático, educado...
- Beleza. Tu queres esse homem “tuuuudo de bom”. E por que tu achas que ele, sendo o maior partido do mundo, iria querer logo tu, sua porcaria?
É difícil. Elas ficam nessa obsessão por serem magérrimas. Isso advém da pressão imposta por todos os que as circundam, e pela mídia, principalmente. Só que há pessoas que, mesmo não gostando de ser como são, nada fazem para deixar de ser gordas!
Uma amiga, outro dia, estava injuriada por causa dos espelhos que determinada loja de departamentos coloca nos seus provadores. Esbravejava, falando que aqueles eram os espelhos do inferno, pois ela podia enxergar seu corpo por todos os ângulos possíveis e imagináveis. Falava mal da loja, acusando seus responsáveis de serem burros, uma vez que as mulheres podiam sentir-se constrangidas ao verem suas imperfeições, culotes, celulites, gordurinhas, etc. e, com isso, não comprariam roupa alguma.
- Que raiva! Quando eu vi meus culotes em trezentos e sessenta graus, vi que eles estavam enormes! Eu sabia que elas são grandes, mas não pensava que fossem tão grandes assim! Vesti as minhas roupas velhas e atirei as que eu iria comprar em direção à atendente! Saí correndo da loja e...
- ...e resolveste tomar uma decisão pra diminuir os culotes, certo? – perguntei.
- Claro que não! Só por birra, fui à sorveteria e pedi uma banana split com duas bolas de sorvete extras! Foda-se! Malditos culotes! Merda!
Há, obviamente, quem lida melhor com sua obesidade em relação aos olhos alheios. Uma das fofinhas que conheço adentrou a sala da repartição. Havia voltado do consultório do endocrinologista. Olhou todos trabalhando, silêncio total, e soltou o desafio:
- Quem acertar quanto eu estou pesando ganha um doce!
Os companheiros de serviço levantaram a cabeça e ela desafiou um deles:
- Beltrano! Duvido que tu acertes o meu peso!
(Avanço! Usei “Beltrano”, em vez de “Fulano”!) Então o Beltrano disse:
- Pô... Só olhando para a senhora eu não tenho como acertar... Não tenho como afirmar com certeza... É difícil! – lógico. Como alguém iria falar com sinceridade a uma pessoa obesa o quanto acha que ela pesa? – Setenta quilos?
- RRRRÁ!! Errado! E tu, acertas quanto eu estou pesando??
Eu a olho de cima a baixo e (claro!) minto:
- Ih, não sei. Eu concordaria com ele, porque eu acho que a senhora tava pesando uns setenta, a senhora é baixa... Mas, já que ele errou, vou chutar uns oitenta... – chutei, pensando que ela poderia até sentir-se ofendida.
- Também errou! Ninguém vai acertar, então eu vou dizer! UM, ZERO, ZERO! Cem quilos!! Fui ao médico e ele me passou um regime. Agora vou ter que comer moderadamente, ou a minha saúde vai pro brejo!
A chefa passa pela sala e ela pergunta:
- Sabe quanto estou pesando? Cem quilos!
- Cem? Poxa vida... Tu tens que te cuidar!
- Mas o médico falou que quarenta por cento do meu peso é apenas água!
- Ah, é água? Então entra numa centrífuga, pra emagrecer!
2 comentários:
Cara, publica isso logo, eu ri demais dessa da centrífuga! Hahahahaha!
HUAHAUHAUHA! Vamos ver se eu dou o azar de publicar esse treco. Preciso de alguém que seja doido da cabeça pra publicar esse meu "livro"! :)
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