Com os trinta anos de idade chegando nesta carcaça, nada como reciclar textos antigos que falam sobre o assunto.
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"Tio" é um chamado que pode quebrar um cara. Ele está lá, na dele, olhando o movimento e, quando é interpelado por uma moça, que ele até acha bonita, dá uma olhada melhor nela, acha que “hoje vou me dar bem!”... só que ele não notou que ela começou sua frase com "Tio...".
Ok, não foi BEEEM o que aconteceu comigo no último Dia de Finados (ei, será que tal dia teria alguma relação com o OCASO que ser chamado de "tio" pode trazer à vida de um jovem cidadão?).
Estava eu esperando a sessão do filme "O Grande Truque" (ótimo filme!), sentado à mesa no saguão do Unibanco Arteplex, comendo minha já tradicional pipoquinha doce, quando noto um burburinho numa mesa no canto do saguão. Não presto muita atenção, já que eu estava bizoiando minha nova aquisição devedeística da Livraria Cultura (e tome consucapitalismo exacerbado!). Quando eu noto, uma guriazinha de no máximo 13 anos, bem pequenininha, tá ao lado da minha mesa:
- Moço, por favor, moço... por favor...
- Hein?
- Moço, eu e meus amigos queremos ver Jogos Mortais III, e eu sou a única que não tem ingresso, TIO...
Puta merda, ouvi aquilo e soltei uma gargalhada:
- HUAHAUHA!! "TIO"...
- Ah, desculpa... Moço, tu pode comprar um ingresso pra mim? Porfavorporfavorporfavor!!!
- Olha, guria... Depois de ver esse filme, vê se tu não vai fazer xixi na cama, hein??
Fui lá e comprei o ingresso pra pobrezinha. É. Pobrezinha. O tio aqui ficou com pena da criança. Não consegui dizer não praquela carinha em apuros. Quando eu entreguei o ingresso pra ela, ela gritou, toda feliz:
- AI, TIO, EU TE AMO!!! BRIGADOBRIGADOBRIGADOBRIGADO... – e saiu correndo.
E, como todo bom véio que se preza, o tio aqui saúda o muitíssimo bem-vindo HORÁRIO DE VERÃO! Dias maiores, mais sol, mais vida diurna. Devia durar todo o ano, aliás.
E o tio acaba de voltar de uma partida de futebol realizada na sauna. Fazia tanto calor em Porto Alegre que, em verdade vos digo, era QUASE FACTÍVEL fritar um ovo na minha quente barriga. Artérias saltitavam em compasso de pulsação frenética causada pelo calor. Um derrame era iminente.
Então o "eu tio" pede licença para o "eu guri" e entra em quadra. Nela corriam pra lá e pra cá dois piás de, no máximo, quatorze anos de idade, um colorado e outro gremista. Chega uma hora na qual correr era impossível, e, sempre pensando no que ocorreu com outro gordo ilustre, chamado Bussunda, o tio Fonseca aqui pensa: "tá na hora de esses guris chamarem a responsabilidade pra si".
E tome bola pro guri do time do tio. Tocava a bola pro guri e gritava "VAI, GURI, 'DIBRA' TODO MUNDO!!"
INCRIVELMENTE, e, pelo visto, não se fazem mais guris como antigamente, o guri NÃO driblava todo mundo. Se fosse na minha época, se eu estivesse jogando com "os veio", eu provavelmente iria querer me exibir, correr pra cacete e tentar driblar todo mundo... Mas esse guri, apesar de piá, tinha certa noção tática. Não era fominha, não corria feito maluco e não deixava "os tio" quietos no canto da quadra, descansando.
Mas, obviamente, valeu o exercício! Agora, de volta ao apê, abri uma sensacional Baden Baden Cristal. Vê se não é coisa de tio: no rótulo da cerveja está escrito "Cerveja leve, dourada e aroma frutado. Acompanha: carnes brancas, peixes e massas leves".
Ahhhhhh. Sensacional. Dá licença, que vou desfrutar de tal iguaria. Só tios podem desfrutar disso.
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