Óbvio ululante?

Talvez tu te encaixe neste relato. Ou não.

Foi-se o tempo em que as coisas eram simples. Era pedir e eu as tinha. Se chorava, mamava. Até nem chorava muito, e, mesmo assim, mamava. A vida era fácil. Eu sequer precisava me limpar. Era tudo simples: comer, dormir, cagar, mijar, comer, mijar, cagar, chorar.

Logo depois, e esse tempo anterior é tempo do qual não lembro e, por isso, pareço não ter curtido o suficiente, comecei a fazer certas coisas sozinho. Já andava por conta própria, e comecei a ir para lá e para cá. Mas sempre vigiado. A liberdade era apenas ilusória. Não podia fazer o que eu queria, nem quando eu queria. Isso durou mais tempo do que a fase anterior, mas também não foi muito tempo. Passou rápido. Outra diferença é que eu lembro de muita coisa que ocorreu. As coisas ainda eram fáceis de ser conseguidas: era só ser aprovado no fim do ano no colégio que elas vinham normalmente. Eram como prêmios por ser bom filho.

Mais velho, mais responsabilidades. Mais encheção de saco. Maus dúvidas e anseios. Pior: a burrice trazida pela adolescência. Adolescente é chato por natureza. Adolescente é bicho idiota, e eu não fui diferente. Mas passei por isso.

Fase adulta, faculdade, emprego. Tudo também passando muito rápido. Hoje faço o que quero? Hoje tenho tudo o que quero? Como consigo as coisas que quero?

Não tenho tudo que quero. Falta tempo, falta grana. Falta desvencilhar-me das obrigações que aparecem no dia-a-dia. Mas isso é crescer.

Às vezes sinto falta dos tempos em que eu chorava pra mamar, mesmo sem lembrar desses tempos, mas é beeem melhor mamar algo comprado com o MEU dinheiro.